Fancesca Woodman foi uma fotógrafa com uma curta carreira. Em 1981, aos vinte e dois anos de idade suicidou-se em Nova York, pouco depois de formar-se na universidade. Embora tenha tido uma vida e um trabalho curtos, como filha de artistas, iniciou seu trabalho ainda bem cedo.
Filha do pintor George e da ceramista Betty Woodman, sua infância foi cerca da de arte, não apenas da dos pais, mas também das artes em museus, que seus pais constantemente visitavam e a levavam, juntamente com seu irmão, que tornou-se artista digital.
Não se pode definir exatamente as razões de uma pessoa escolher ser artista, bem como qualquer outra profissão, a não ser pelo pouco que sabemos sobre suas influências, que acho que são os motivos mais importantes. A escolha de Francesca e de seu irmão também não podem ser claramente definidos, mas com certeza, seus pais e sua criação foram muito importantes para esta decisão.
Seria uma pesquisa interessante observar como ou se as obras de seus pais influenciaram de algum modo o seu trabalho, suas ideias, etc. Porque vindo de uma família de artistas, crescendo observando o trabalho e a produção dos pais, como ela poderia desenvolver sua própria linha de trabalho desarraigada da influência estética dos pais? Essas perguntas podem ser respondidas por alguém que esteja mais por dentro do trabalho desta família, mas pelo material que pude ter acesso até agora, ela parece ter sim, criado uma estética bem diferente da dos seus pais. Seu pai e sua mãe parecem ter um trabalho voltado mais para a decoração, enquanto ela se envolve em outro tema.
Se bem que ela possa ser comparada ao fotógrafo Ralph Eugene Meatyard, a fuga da influência dos pais possa ser um dos fatores motivacionais do trabalho de Francesca. Ambos (Fancesca e Ralph) gostam de usar casas arruinadas, janelas quebradas e papel de parede descolando e a presença de pessoas nesses ambientes é fugidia e imaterial.
Francesca usava bastante o seu próprio corpo em suas fotografias, e se fizermos uma análise ainda que superficial, parece que ela quer aparecer ou desaparecer, em uma casa arruinada, com uma decoração que não está boa. Penso que a casa arruinada seria uma representação de seu lar, que por seus motivos pessoais deveria considerá-lo destruído. As janelas e armários que ela muito utiliza, dão a impressão do desejo de liberdade que ela tem. Ela sempre está perto das janelas, ou se dirigindo à elas ou fugindo delas, creio que não apenas para se utilizar de sua iluminação (somente para a fotografia), mas para mostrar o quanto deseja aparecer, tanto dentro (de casa) quanto fora. E o que dizer do significado da decoração se seus pais produziam decoração?
Parece que seu pai lhe dava mais atenção que sua mãe, inclusive, foi ele quem deu à ela uma câmera fotográfica de presente quando ela tinha treze anos. Usar portanto o presente do seu pai e uma temática familiar com certeza nos faz suspeitar de que haja sim alguma coisa por trás do seu mero desejo de fotografar.
Não é de se admirar que a morte seja uma temática sempre presente na arte. O que há que chame tanto atenção e seja eternamente como a morte? A morte é também uma forma de chamar atenção, e este tema com certeza estava presente no trabalho de Francesca. Ela tinha muitas características que Freud descreve como sintomas de uma neurose, seja o que for, ele soube expressar muito bem o que os neuróticos tem dificuldade de perceber em si mesmos, não terá sido proposital?