Por Alessandra
Alves, Lucas Ximenes, Rodrigo Vieira
Hans Harp |
Em um contexto assim, haviam duas
escolhas a fazer: aceitar a guerra e o comportamento humano como algo natural
das escolhas feitas até ali ou perceber que havia algo de errado e que era
necessário ver as coisas de outra forma, quem sabe, ter que começar do zero.
Esta era a proposta dadaísta, porém
apesar de muito interessados em uma nova ordem das coisas, as pessoas
envolvidas no dadaísmo (que não eram apenas artistas, mas muitos atores e
escritores também) mantinham o pé no chão sobre qual era de fato a sua
proposta. Seria impossível criticar a industrialização das coisas partindo do
zero, portanto, o dadaísmo se apropria sim de diversos produtos
industrializados, mas com a proposta de modificar a visão das pessoas sobre
aquilo.
O movimento causou certa revolta e
acabou sendo rápido. Mas sua influência está presente até hoje, na maioria dos
artistas que procuram protestar contra especialmente, o capitalismo.
O
DADÁ
Cabaret Voltaire |
Uma guerra com as proporções da primeira
guerra mundial, naquela época era muito assustador. A guerra era uma
contradição clara ao racionalismo tanto defendido por pessoas que deram suas
vidas para que o sonho da liberdade fosse alcançado por todos e parecia estar
se tornando realidade.
Hugo Ball na inauguração do Cabaret Voltaire |
Ball era alemão e já tinha seu
envolvimento com a arte, era poeta, escritor, filósofo e diretor artístico de
teatro. Tristan Tzara, um poeta romeno, declamava poesias e Richard Huelsenbeck
que era medico e poeta alemão era também o apresentador do Cabaret. Hans Arp
era pintor e Marcel Janco era pintor e arquiteto, fornecia os cartazes do Cabaret
Voltaire com Marcel Slodcki e Max Oppenheimer, as decorações e máscaras. Estes
foram os que participaram do início do Cabaret.
O Dadá surge em plena primeira guerra
mundial. A guerra fora iniciada em 1914 e, portanto, já estava em seu segundo
ano. O mundo estava totalmente desorientado. A primeira guerra mundial
inclusive, fora batizada como “a guerra para acabar com todas as guerras”.
Hoje, sabemos muito bem que isso fora uma mera ilusão.
Observar portanto, pessoas que ainda
estavam interessadas em fazer uso da razão naquela situação é muito
interessante, mas estes foram confundidos até mesmo com loucos, por fazerem
coisas que pareciam não ter sequer sentido.
Emmy Hennings |
A arte Dadá parece ter escolhido a
primeira opção, contestando claramente os caminhos pelos quais as pessoas
trilhavam, em direção oposta ao verdadeiro progresso. Os artistas portanto, se
utilizaram da arte para poderem fazer este despertamento nas pessoas. Por isso,
muitos movimentos contemporâneos que pretendem protestar contra o sistema
capitalista se utilizam dos meios usados por seu precedente dadaísta.
O Nome
Em 1916,
o Dadá já existia. Na verdade, 1916 foi um ano marco para a história oficial do
Dadá especialmente em Zurique porque lá foi onde o movimento aconteceu
simultaneamente, envolvendo diversos artistas e através do Cabaret Voltaire,
atraindo também muitas pessoas. Portanto, em Zurique o Dadá tornou-se bastante
popular.
Em
Zurique, Tzara e Janco, ambos romenos, quiseram adotar este nome que na verdade
ainda é tema para muita discussão, uma vez que não tem um significado
específico, mas que acaba sendo também, fruto do acaso.
A revista
Duchamp e Picabia fundaram a revista
291, que antecipava diversos temas do movimento dadaísta. Eles só aderiram de
fato ao movimento em 1918, no último ano da guerra.
A
revista Dadá foi ideia de Tzara, que foi também o responsável pela edição e
publicação dela. A partir dela, foi introduzido ao Cabaret, eventos literários,
e como fruto, surgem também os poemas Dadá. Estes poemas tinham a proposta de
serem também fruto do acaso e iam surgindo juntando frases ou palavras aleatórias
dos poetas e declamando-as.
Os
poemas abstratos foram o auge do movimento Dadá, uma vez que fora inédito uma
proposta de desconstrução da literatura também. A imagem já estava tentando ser
desconstruída de várias formas, mas até o Dadá, ainda possuía certas limitações
por acabar sendo arte de galeria, como no caso do Cubismo.
No final
de 1916, Hugo Ball e Tzara fundaram a galeria Dadá. O Cabaret Voltaire já havia
sido fechado por conta de protestos dos cidadãos da cidade. Todo aquele movimento
despertou revolta em muitas pessoas, não era lá muito aceitável aquele tipo de comportamento.
O
movimento Dadá continuou, mas já não mais como antes, tornou-se mais discreto.
Ball, Tzara, Janco e Hans Richter organizavam visitas guiadas e durante o
trajeto, os guias insultavam as pessoas a fim de lhes provocar. Esta foi uma
característica que aconteceu em todo o mundo, por onde o Dadá passou.
O acaso
O Dadá foi um movimento que procurava
ser contrário a todo o conceito anterior de arte, querendo contestar tudo o que
já havia de arte até então. Para os dadaístas, a verdadeira arte era a
antiarte. Era um movimento artístico que negava a própria arte, era um
contra-senso.
Os artistas estavam interessados em se
livrar das atribuições dadas à arte. Queriam livrar-se das mistificações nela
envolvidas bem como o seu papel. O objetivo do Dadá não era construir uma nova
arte, mas se construir.
Uma
característica dos artistas Dadá, é que estes gostavam da sensação de liberdade
que este movimento lhes proporcionava. Através destas experiências, podiam
portanto escutar suas “vozes interiores".
Com
isso, ser artista ganha uma nova característica. O ser artista não é mais
exercer uma determinada profissão e dominar determinada técnica, mas é ser ou
tornar-se livre.
O anti-acaso
Mas ao
passo que procuravam fazer uma arte livre de todas as regras e prescrições da
academia, da sociedade e de qualquer outra forma de modelagem cultural,
procuravam também uma disciplina, uma nova ordem para as coisas.
Não era apenas a vontade de destruir
tudo o que já se havia construído até ali, tanto é que os artistas dadaístas se
utilizavam também de objetos industriais, mas não com a finalidade de
utilizá-los da forma para que foram feitos, mas com o intuito de apresentar uma
nova visão sobre as coisas que as pessoas já estavam tão habituadas a usar,
aceitando cada coisa sem ao menos raciocinar sobre aquilo.
Ao colocar bigodes na Gioconda de Da
Vinci, não procura desfigurar a obra prima, mas está apenas modificando uma
cópia da obra original, tanto venerada pelas pessoas, mas que não sabem
distinguir o original da cópia, tal foi a introdução das imagens produzidas
industrialmente.
Duchamp consegue alcançar o topo da
ideologia Dadá quando se utiliza de objetos comuns apresentando-os como sendo
obras de arte, como por exemplo, o mictório ou uma roda de bicicleta.
Descontextualizando-os, traz à discussão a diferença do que é necessário e do
que é estético para uma sociedade utilitária. O estético pode ser atribuído por
qualquer pessoa que queira teu uma percepção diferente sobre o que está tão
presente em sua vida.
EXPOSIÇÕES
Aconteceu entre 17 de
fevereiro e 15 de março de 1913, na sede do quartel Nacional de Nova York, daí
a denominação Armory Show. Foi a primeira mostra da arte Moderna com 1250 obras
. Nessa primeira mostra participaram os artista ingres, delacroix, Cézanne,
Renoir, Monet, Gauguin, Braque e Duchamp entre outros.
Zurique
Baseando-se
unicamente na ironia, irracionalidade e no efeito de choque das suas
provocações literárias (ELGUER), a primeira exposição na Suíça aconteceu na
inauguração do Bar café Cabaret Voltaire, em 15 de fevereiro de 1916,com o seu
fundador e proprietário Hugo Ball reunindo entre os amigos as obras – pinturas,
gravuras, peças literárias, textos e recitais. Seus principais representantes
nas artes plásticas foram Max Oppeheimer, Hans Harp, Marcel Jacob e na
literatura .
Berlim
O movimento Dada em
Berlim foi tumultuado mas tal qual aconteceu em Zurique, a contradição e a
ilógica estavam presentes, no entanto devido a situação caótica política Alemã
– greves (400.000 trabalhadores em 1918), motim naval, descontentamento com o
momento político e social, o dadaísmo em Berlim assumiu uma postura de luta
política. Seus principais representantes foram Richard Huelsenbeck, George
Grosz e John Heartfield. Em 12 de Abril de 1918, Huelsenbeck e Raoul Hausmann
organizaram um noite de recitação na Sezession de Berlim onde foi lançado o
primeiro manisfesto Dadaísta da Alemanha intitulado “Dadaísmo na vida e na
arte” posicionando contra o expressionismo alemão e enobrecendo as
características especiais do Dadaísmo ( ELGER). Propôs também a criação do Club
Dada. A primeira exposição aconteceu na Primeira Feira Internacional Dada, numa
tentativa de tentar documentar o caráter global do movimento. Aconteceu entre
30 de Junho a 25 de Agosto de 1920. Incluía uma lista de 174 trabalhos
distribuídos em várias salas sendo o que corredor que as separavam, estavam repletos de todo tipo de peças, tudo
muito junto, onde a maioria eram de artistas de Berlim, mas com a presença de
outros lugares, Zurique – Hans Arp, Dresden - Otto Dix, Paris – Francis Picabia, Colônia – Marx Enst
e Antuérpi – Otto Schmalhausen entre outros. “Eles exibiram todo tipo de arrojo
possível em termos de material, opinião e invenção – sem paralelo mesmo em
relação ao atual Neo-Dada ou a Pop Art – mas o público não acompanhou, já
ninguém queria ver mais Dada” resumiu Hausmann décadas depois.
Fim
do Dadaísmo
O Dadaísmo não foi
uma vanguarda que perdurou por muito tempo, talvez pela maneira abrupta que
apareceu e a força com a qual se propagou, influenciando seu fim precoce. O
certo é que com o movimento bem contestador e um tanto quanto “rebelde” os
membros do mesmo começaram a se desentender. Tzara, que se intitulava monsieur
dadá, não permitiu que tirassem as rédeas de sua mão, mas Breton e Picabia
determinavam cada vez mais os rumos do movimento. Sendo assim as tensões
começaram a crescer cada vez mais, o que levaria a dissolução do Dadaísmo. Apesar de artistas como Man Ray, Max Ernst,
Ribemont-Dessaignes entre outros artistas e literatos continuarem com sua
produção o Dadaísmo havia passado. Em Weimar alguns amigos se reuniram para o
“enterro” do Dadaísmo.
Tzara redigiu a
oração fúnebre e a pronunciou em Jena, Hannover e Berlin. Foi publicada no
numero 7 da revista “Merz” de Schwitters (1923).
Neodada
Devido
ao alto grau de experimentação dos Dadas muitas novas possibilidades gráficas
foram empregadas na arte e na indústria, porém o estilo dadá ficou apagado por
mais ou menos 30 anos, novos artistas recuperam algumas conquistas do movimento
dadá como a assemblage e a apropriação. A inspiração primeira são os
ready-mades de Marcel Duchamp (1887-1968), construídos a partir da combinação
inusitada de elementos da vida cotidiana ou das simples exposições de objetos
comuns. Recriaram uma arte onde nem a natureza nem o ser vivo são o alvo, mas
sim o mundo pré-fabricado, um mundo pré-mastigado e no centro disso tudo
estaria a PopArt.
No
Brasil, um certo espírito do neodada e da arte pop pode ser localizado em obras
da década de 1960, presentes nas obras de artistas como Antonio Dias e Nelson
Leirner.
Pop-Art
O visual da pop-art
como já dito é do mundo pré-fabricado, das latas de cerveja e das garrafas de
Coca Cola, das fotografias de Pin-ups. Uma vanguarda contra a cultura de massa.
“Na realidade pode ser qualificada como uma tentativa artística de enriquecer a
pobreza de espirito.” segundo Brian O’Dougherty.
Os
anúncios são descolados de seus contextos e transpostos para obra de arte, mas
guardam a memória de seus locus
original. Ao aproximar arte e design comercial, o artista borra,
propositadamente, as fronteiras entre a arte erudita e a arte popular, ou entre
arte elevada e cultura de massa.
Happening
O termo happening foi criado no
fim dos anos 1950 pelo americano Allan Kaprow para designar uma forma de arte
que combina artes visuais e um teatro sui generis, sem texto nem
representação. É gerado na ação e como tal, não pode ser reproduzido. Seu
primeiro modelo são as rotinas e as fronteiras entre a arte e a vida. Espécie de arte total em que se
encontram reunidas diferentes modalidades artísticas – pintura, dança, teatro e
musica.
CONCLUSÃO
O
movimento dadaísta foi singular no sentido de não está ligado apenas com a arte
como sua única linguagem, mas se apropriou da literatura, da música, em seus
poemas ritmados e na escultura, o que influenciou bastante o surgimento do
happening.
O dadaísmo foi uma grande festa e um
grande protesto, foi a fuga da razão em tempos insanos ou a racionalização da
insensatez humana. Seu movimento terminou rapidamente, porém suas contribuições
ideológicas e estéticas, perduram até hoje.
Embora sua presença atual não seja de
forma sólida como era, ela está dissolvida entre movimentos, ideias e conceitos
na indústria, na arte e na propaganda ou por onde quer que tenha passado e
“fertilizado” seu solo.
REFERÊNCIAS
ARGAN, Giulio C. Arte Moderna. São Paulo. Companhia das letras,
1992.
RICHTER, Hans. Goethe-Institut,
Munique1984.
ELEGER, Dietmar., Dadaísmo. Tachen, 2005.
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