Não é de hoje que
conheço a foto de Kim correndo nua depois de ter sido queimada e suas roupas
terem sido arrebatadas pela bomba de napalm lançada perto de onde estava em
1972. Muitas pessoas morreram naquele dia devido esta bomba, mas a história de
Kim teve um outro rumo graças à atitude do fotógrafo Nick Ut, que depois de ter
fotografado a cena, ajudou Kim, primeiro jogando água em seu corpo e depois
levando ela ao hospital. A fotografia deu à Nick Ut o prêmio Pulitzer de
fotografia e foi uma ferramenta importantíssima para o fim da guerra do Vietnã,
mobilizando muitas pessoas a favor do fim da guerra, incluindo soldados norte
americanos.
Tirando a imagem
registrada, eu não conhecia mais nenhuma das outras informações mencionadas
acima. Não sei nem quando eu vi esta fotografia pela primeira vez, mas sempre
fiquei curioso em saber quem eram aquelas pessoas e o que estava acontecendo
ali. Não é uma atitude particular minha, uma vez que as imagens sempre tiveram
este poder de gerar um desejo de entrarmos naquele momento e apertarmos um
“play” para saber o que estava acontecendo ali e o que ia acontecer depois.
Fora assim com as pinturas, é assim com a fotografia.
Mas a fotografia tem um
poder ainda maior neste chamamento porque a imagem da fotografia é tão semelhante
ao real que muitas vezes atribuímos um sentimento à imagem ali gravada como se
as pessoas ou as coisas que estão registradas estivessem de verdade à nossa
frente. Algumas pessoas acreditam até mesmo que a fotografia tem o poder de
aprisionar a alma da pessoa fotografada.
A imagem parece tão
real, que muitas vezes nos esquecemos que alguém (no caso o fotógrafo) estava
ali, no mesmo lugar em que agora estamos. Como já dizia o fotógrafo James
Nachtwey: a fotografia tem o poder de nos colocar no lugar do fotógrafo.
Mas quando lembramos
que estamos no lugar de alguém que de fato esteve ali, naquele exato momento,
sabemos que alguém tem as respostas para as perguntas que nos intrigam de quem
eram as pessoas ou o que era aquela situação, o que acontecera antes e o que
aconteceu depois daquele momento. O fotógrafo pode não saber ao certo o que
aconteceu muito antes ou muito depois da cena que ele fotografou, mas a curto
prazo ele pode saber.
Esta consciência de que
havia alguém ali, nos faz indagar o que esta pessoa fez depois do registro que
ele fez, depois de tirar o dedo do botão da máquina. No caso de Nick Up, ao
saber o que ele fez após a foto: ter ajudado Kim, nos faz criar uma certa
empatia por ele e por isso ele é considerado um herói, não apenas um fotógrafo
mercenário. O que ele fez não foi registrado em fotografia para nos servir de
prova, mas o que ele conta, a própria Kim pode confirmar. A atitude que temos
diante das situações que passamos são muito mais importantes que qualquer coisa
que podemos registrar. Enquanto Nick se tornou um herói, Kevin
Carter, outro ganhador do Pulitzer, ficou com o papel de vilão devido à uma
série de desencontros nas falas dele e das pessoas que o entrevistaram por
causa de sua famosa foto de um abutre perto de uma menina agachada, faminta e
cansada.
É claro que podemos produzir ou reproduzir o que quisermos, mas sempre
devemos ter a consciência de que rumo nossas escolhas nos levarão, ainda que o
calculo esteja errado. Temos o direito de falar ou nos omitir, de fazer ou não,
mas nossas atitudes são muito importantes para nos levar onde queremos. A vida
é uma coleção de consequência de escolhas que as pessoas fazem. Precisamos
saber se o que estamos fazendo é o suficiente, o máximo ou se podemos melhorar.
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