As obras de arte são fruto de trabalho,
pesquisa, histórico de vida, condições em que o artista se encontra e outras
coisas mais que refletem a particularidade de cada um.
A escolha do tema a ser abordado,
portanto, é com certeza de um caráter muito pessoal e particular. Como sabemos,
o ser humano é diferente dos animais por poder dizer não à seus instintos, por
isso, cada classe de animais tem suas características que podem definir a
grosso modo o seu caráter, com pequenas variações aqui ou ali dependendo do
ambiente em que se encontram.
O ser humano não pode ser definido com
apenas algumas características comportamentais, porque seu comportamento varia
não apenas por causa das condições em que se encontra mas também por causa de
seu histórico, tanto genético como de vida e experiências. O que define o ser
humano, portanto, é o que o difere dos outros seres humanos, fazendo com que
cada um seja um seja diferente do outro.
Com tantas características que nos
afastam das outras pessoas, existe a necessidade de nos aproximar delas também,
o ser humano necessita de outros seres humanos, especialmente para progredir. E
eis o grande problema, viver em comunidade, ou viver em harmonia com as outras
pessoas.
Para isso, existe a ética. Como foi que ela surgiu é uma
pergunta bem interessante, mas há em todos os animais uma ética impressa dentro
deles. O ser humano consegue então, ampliar esta ética, modificá-la e adaptá-la
para melhor servi-lo.
A ética do mundo animal, portanto, é
diferente da ética do ser humano. Porque em cada lugar, um grupo de pessoas
estabelece sua ética de acordo com os interesses em comum.
O artista então, como ser humano que é,
vive cercado de valores e princípios que como ser humano, poderá ou não
escolher seguir. Normalmente, parece que os artistas são os “escolhidos” para
não concordarem com a ética proposta por aqueles que exercem um cargo de poder
acima dos demais seres humanos, estes são geralmente os que propõe ou impõem
uma lei para ser seguida para “o bem do grupo”.
É aí onde surgem muitos problemas,
quando na verdade, acho que em muitos casos, não seria necessário existirem.
Como eu disse anteriormente, o artista seria aquele que apresenta sua
observação de forma criativa ou rápida. Rápida, não no sentido de tempo para
ser feita, tanto é que ela se distingue da fotografia jornalística, por ter
mais tempo para ser feita. Por isso, ao meu ver, o artista autoral tem muito
mais responsabilidade sobre sua fotografia que os demais.
O problema é que muitos artistas
procuram fazer suas críticas de forma bastante apelativa, o que em muitos
casos, causa mais repulsa a aceitação. É uma escolha do artista fazer isso, ele
tem liberdade para isso, porém é necessário, ao meu ver, e creio que muitos
concordam com isso, que o artista, mais do que qualquer outra pessoa, saiba
exercer sua liberdade, a fim de poder viver o máximo possível pela sua causa.
Cada escolha feita implica em
resultados, estes resultados podem frustrar pessoas, podem frustrar o próprio
artista. Em toda a vida humana, o ser humano é escravo das escolhas, pode
parecer um paradoxo em relação ao que falamos de liberdade, mas não tem para
onde correr para se livrar desta condição. O ser humano é condenado a passar a
vida inteira julgando o que é certo, o que é errado, o que está certo, o que
está errado, o que deve ser feito o que não deve ser feito, o que deveria ter
sido feito ou não...
Por onde o ser humano passa, haverá uma
presença de valor, as coisas nunca são vistas com os mesmos olhos,
literalmente. Voltamos à velha ideia de Heráclito de Éfeso: “ninguém banha-se
duas vezes no mesmo rio”. Em sua condição, o ser humano se torna preso a ética,
todas as suas escolhas estão dentro da ética, ainda que seja para sair dela.
Se bem que por onde o ser humano passa
os juízos de valor ali estarão e cada vez há uma mudança de olhar, há outro
ponto que parece contradizer isso, trata-se do costume. O costume é
caracterizados por atos continuados, embora pareça que a pessoa esteja presa,
na verdade, a ética também está nesta
situação, porque para que este ser humano se encontrasse preso em um
determinado costume, foi necessário uma escolha e para que este ser humano saia
do costume, é necessário uma escolha também, a escolha de sair de lá. Portanto,
permanecer em um costume é uma escolha constante de dizer “sim”, e como falamos
também, não é por falta de oportunidade de dizer “não”.
É necessário então, aprender a enfrentar
nossa condição e se apropriar das melhores formas para conduzirmos nossa
existência. Parece que a arte tem esta característica e assim, os artistas
procuram a melhor forma para poderem derramar suas dúvidas, seus anseios, seus
medos, seus fracassos...
A ética é importante para escolhermos o
que fazer, como fazer e se deve ser feito. Querer é diferente de poder que é
diferente de dever. Há coisas que embora queiramos, não podemos e outras que
podemos mas não devemos.
Acho que a questão da fotografia
autoral, bem como na maioria das formas de arte também, há ali uma certa
liberdade para poder fazer coisas que talvez não se possa nem se deva fazer,
mas isso não se trata apenas da imagem retratada, mas a ética abrange também (e
principalmente) o próprio fazer artístico. Mesmo que haja liberdade poética
para fazer o que quiser, o artista, ainda assim, deverá raciocinar nos meios
que irá utilizar para chegar onde quer chegar.
Todas estas questões são discutidas
também no filme Fotos Proibidas, a respeito de uma exposição em Cicinnati de
Robert Mapplethorpe. Até onde a ética pode se interferir na liberdade pessoal
ou de expressão? Será que é necessário? Com certeza, a liberdade de expressão é
um direito de todos, ninguém deve se submeter à escravidão e ficar quieto, mas
a ética tem um papel especial no que diz respeito à forma da expressão. Não é
nada louvável se expressar de qualquer forma diante de uma criança, por
exemplo, a percepção de uma criança é bem diferente da percepção de um adulto,
e ainda assim, como podemos notar, cada ser humano é diferente do outro.
Ao mesmo tempo em que há liberdade de
expressão, há também o direito de resposta, a liberdade religiosa e etc. Se
alguém se expressa a fim de protestar contra um abuso cometido por uma
instituição ou por alguém, é uma coisa, mas protestar com o fim de ofender as
crenças de outras pessoas é com certeza um grave erro de exercício da
liberdade, pois é querer obrigar o outro a pensar como você e, o julgar ser
melhor do que o outro não pode ser feito de qualquer forma.
Uma vez que eu descubro e crio as minhas
convicções de que estou do lado certo, tenho o dever de ensinar os outros o que
é certo. Os outros tem o direito de não aceitar, e se houverem dois grupos que
pensam diferente em um lugar, deverá haver uma ética que possibilite a
convivência entre estes dois grupos. Se um tentar se impor sobre o outro,
estará deixando o uso da razão e partindo para a irracionalidade, o que fará
que por mais que esteja certo em sua convicção, estará agindo de forma errônea.
Digo isso não apenas por causa de muitos
artistas que tentam impor uma determinada visão com seus trabalho querendo que
este seja exposto publicamente quando na verdade seu conteúdo é muito ofensivo,
mas também por causa daqueles que não aceitam que o artista exerça sua
liberdade de expressão. Uma forma de poder fazer com que estes grupos
divergentes habitem na melhor forma possível de harmonia seria criar espaços
para que cada um pudesse se expressar da forma que bem entender, desde que
respeitando o outro também (não exercendo sua liberdade se apropriando de atos
criminosos).
O problema que temos é que os que não tem nada a
ver com o outro querem interferir em seu espaço, aí, de fato, cria-se uma
grande confusão.
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