quarta-feira, 13 de novembro de 2013

FOTÓGRAFO DE GUERRA

            A fotografia de guerra é fotografia que registra imagens de conflitos armados e das consequências que estas trazem.

O filme Fotógrafo de Guerra (2001), levanta algumas questões sobre a fotografia jornalística. O filme é um documentário sobre de guerra, e apresenta especialmente trabalho do fotógrafo James Nachtwey, um fotógrafo que ainda insiste em trabalhar em algo tão perigoso e cheio de problemas éticos: qual o preço de uma boa fotografia e como pode alguém viver em decorrência da miséria de outros?
O filme já começa com uma frase do fotógrafo James Capa: “Se suas fotos não são suficientemente boas, não estás suficientemente perto”. Este é um dilema para o fotógrafo de guerra, porque ele acaba sendo uma vítima também da guerra, então, como estar o mais perto possível da forma mais segura também? É aí onde se exige prudência, que neste caso, é o saber agir com calma no momento da crise e saber respeitar quem está por perto, este trabalho lida com vidas e é necessário ter consciência de seus limites e de sua segurança, bem como a das pessoas que estão ao redor também.
            De fato, a fotografia de guerra tem uma grande importância porque enquanto o fotógrafo presencia, está também documentando os fatos. Infelizmente, muitos fotógrafos considerando seu trabalho como apenas uma forma de subsistência, não consideram a importância que este trabalho tem como forma de conscientização e uma esperança para haver de alguma forma, alguma mudança, perdem a prudência no trabalho e em busca de uma boa foto, muitos colocam-se em risco e colocam os outros também, por sua ganância, são  indiferentes à dor alheia e se usam dela para poderem lucrar. Ainda assim, há os que como Nachtwey, veem sua importância no cenário social e muito mais do que bater fotos, estão presentes para fazer algo melhor, não esperando que o outro tenha a iniciativa.
            O fotógrafo precisa mostrar a verdade, porque é ela quem de fato liberta a consciência de quem não está lá e pode fazer alguma coisa, mas um grande desafio hoje é o de conscientizar e mobilizar pessoas para algo relevante. Muitas pessoas já se habituaram a assistirem e verem cenas de horror, que mais uma foto, dificilmente pode tocá-la. A cultura de coisas fúteis que temos hoje, muitas vezes é a primeira a tentar afastar as pessoas de sua responsabilidade como seres humanos em lutar para que todos possam ter a oportunidade se serem livres.
Como foi relatado no filme pelo próprio Nachtwey, não é muito fácil se fazer este tipo de trabalho hoje, porque os próprios patrocinadores dos jornais ou revistas, não querem uma imagem tão triste ao lado do seu anúncio por considerarem ser prejudiciais às suas vendas. Nesta busca pelo dinheiro é que infelizmente, muitos fotógrafos correm atrás da boa foto, e neste caso, não é a que irá mostrar a verdade.
Encaramos um problema ético, porque muitos fotógrafos então, se utilizam do infortúnio dos outros, as principais vítimas do terror imposto sobre si para poderem ganhar dinheiro. A imagem dessas pessoas transformam-se apenas em um objeto comercial.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A HISTÓRIA DE KIM

Não é de hoje que conheço a foto de Kim correndo nua depois de ter sido queimada e suas roupas terem sido arrebatadas pela bomba de napalm lançada perto de onde estava em 1972. Muitas pessoas morreram naquele dia devido esta bomba, mas a história de Kim teve um outro rumo graças à atitude do fotógrafo Nick Ut, que depois de ter fotografado a cena, ajudou Kim, primeiro jogando água em seu corpo e depois levando ela ao hospital. A fotografia deu à Nick Ut o prêmio Pulitzer de fotografia e foi uma ferramenta importantíssima para o fim da guerra do Vietnã, mobilizando muitas pessoas a favor do fim da guerra, incluindo soldados norte americanos.

Tirando a imagem registrada, eu não conhecia mais nenhuma das outras informações mencionadas acima. Não sei nem quando eu vi esta fotografia pela primeira vez, mas sempre fiquei curioso em saber quem eram aquelas pessoas e o que estava acontecendo ali. Não é uma atitude particular minha, uma vez que as imagens sempre tiveram este poder de gerar um desejo de entrarmos naquele momento e apertarmos um “play” para saber o que estava acontecendo ali e o que ia acontecer depois. Fora assim com as pinturas, é assim com a fotografia.
Mas a fotografia tem um poder ainda maior neste chamamento porque a imagem da fotografia é tão semelhante ao real que muitas vezes atribuímos um sentimento à imagem ali gravada como se as pessoas ou as coisas que estão registradas estivessem de verdade à nossa frente. Algumas pessoas acreditam até mesmo que a fotografia tem o poder de aprisionar a alma da pessoa fotografada.
A imagem parece tão real, que muitas vezes nos esquecemos que alguém (no caso o fotógrafo) estava ali, no mesmo lugar em que agora estamos. Como já dizia o fotógrafo James Nachtwey: a fotografia tem o poder de nos colocar no lugar do fotógrafo.
Mas quando lembramos que estamos no lugar de alguém que de fato esteve ali, naquele exato momento, sabemos que alguém tem as respostas para as perguntas que nos intrigam de quem eram as pessoas ou o que era aquela situação, o que acontecera antes e o que aconteceu depois daquele momento. O fotógrafo pode não saber ao certo o que aconteceu muito antes ou muito depois da cena que ele fotografou, mas a curto prazo ele pode saber.
Esta consciência de que havia alguém ali, nos faz indagar o que esta pessoa fez depois do registro que ele fez, depois de tirar o dedo do botão da máquina. No caso de Nick Up, ao saber o que ele fez após a foto: ter ajudado Kim, nos faz criar uma certa empatia por ele e por isso ele é considerado um herói, não apenas um fotógrafo mercenário. O que ele fez não foi registrado em fotografia para nos servir de prova, mas o que ele conta, a própria Kim pode confirmar. A atitude que temos diante das situações que passamos são muito mais importantes que qualquer coisa que podemos registrar. Enquanto Nick se tornou um herói, Kevin Carter, outro ganhador do Pulitzer, ficou com o papel de vilão devido à uma série de desencontros nas falas dele e das pessoas que o entrevistaram por causa de sua famosa foto de um abutre perto de uma menina agachada, faminta e cansada.
É claro que podemos produzir ou reproduzir o que quisermos, mas sempre devemos ter a consciência de que rumo nossas escolhas nos levarão, ainda que o calculo esteja errado. Temos o direito de falar ou nos omitir, de fazer ou não, mas nossas atitudes são muito importantes para nos levar onde queremos. A vida é uma coleção de consequência de escolhas que as pessoas fazem. Precisamos saber se o que estamos fazendo é o suficiente, o máximo ou se podemos melhorar. 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

FOTOGRAFIA AUTORAL - diante da dor dos outros

            No livro Diante da Dor dos Outros, de Susan Stag, a autora, descreve alguns dos problemas atuais com a fotografia. Dentre eles, a relação que as pessoas têm hoje com as imagens.
            Há setenta e cinco anos atrás (na verdade a autora fala sessenta e cinco, mas como o livro é de 2003, tomei a liberdade de acrescentar os dez anos de diferença), praticamente todas as fotos eram novidade. Há hoje, uma grande quantidade de imagens no mundo, todos os dias, as pessoas são bombardeadas por imagens, que acabam muitas vezes, tornando-se clichês e consequentemente, não falam mais com as pessoas tal como falariam há setenta e cinco anos.

            É, portanto, para o fotógrafo autoral um desafio, bem como para o fotógrafo jornalístico, produzir uma imagem que saia deste paradigma. Não que necessariamente, o fotógrafo precise apresentar uma imagem completamente inovadora, até porque os temas são praticamente os mesmo, os problemas que o mundo enfrenta são em termos gerais, os mesmos, mudando apenas algumas ramificações dentro destes problemas, que são uma adaptação ao problema antigo.
            Hoje em dia, as pessoas tem acesso à inúmera quantidade de imagens, tanto que acontecem pelo mundo quando que acontecem com as pessoas. E sobre isso acho que me aproximo da fotografia autoral.
            A fotografia autoral é muito mais íntima com o fotógrafo que a fotografia jornalística. O fotógrafo não necessariamente estará envolvido em problemas sociais e políticos, mas a fotografia autoral de certo modo, trata muito mais dos problemas e questões pessoais das pessoas.
            Por isso, há uma responsabilidade também no fazer fotografia autoral, porque, bem como se exige certa ética no fotografar acontecimentos, ao artista, é importante também ser ético no apresentar as ideias, seus valores, suas crenças, seus anseios, suas experiências, que estão dentro de suas obras, ainda que haja toda a liberdade de expressão.
            A fotografia no entanto, é uma arte até certo ponto autônoma, por não exigir que o fotógrafo seja experiente, ela tem uma característica que não é muito encontrada nas outras artes, que é a questão da sorte. Talvez isso seja mais comum à fotografia jornalística, porque para os fotógrafos autorais, nem sempre existe esta “sorte”, eles têm que criar a sua sorte, como por exemplo, Jan Saudek, que conta ter passado um longo tempo morando em um lugar nada agradável, em um porão. Mas foi dali mesmo, de um canto em que havia uma janela, que ele produziu diversas fotos. Francesca Woodman também usava praticamente os mesmos cenários, normalmente de seu quarto e ali produzia seus trabalhos.
            Mas a fotografia tem a característica de não exigir tanto um certo grau de conhecimento ou experiência com a câmera. No final de 2001, por exemplo, houve a exposição “Aqui é Nova York”, onde havia diversas fotografias de fotógrafos renomados como Gilles Press ou James Nachtway juntas a fotografias de cidadãos comuns, que no 11 de setembro fotografaram em algum momento, as torres sofrendo as consequências dos impactos dos aviões que as atingiram.
            Quem ia à exposição comprava a fotografia que quisesse e só após efetuada a compra, é que ele saberia quem de fato era o autor dela. As fotos eram expostas sem legenda, trazendo à reflexão, que não necessariamente, os profissionais das lentes estariam à frente dos que não a usavam profissionalmente. A situação foi fotografada e assim documentada, esta é uma das características que tornam a fotografia mais democrática.
            Mas muito embora o fazer fotografia possa ser tão democrático, existe no entanto a exploração da imagem, que já foi mencionado anteriormente. Na fotografia jornalística, se dá muitas vezes pela exploração da imagem e da dor do outro que está sendo fotografado. Vejo que na fotografia autoral, esta exploração se dá na falta de preocupação, atenção ou cautela da forma como a imagem será apresentada.
            O surgimento da fotografia trouxe ao menos, duas coisas muito desejáveis à arte: a imediatez e a fidedignidade da imagem. A fidedignidade já estava sendo o tema de estudo dos artistas a partir especialmente da câmara escura e a imediatez estava tentando ser resolvida a partir especialmente do impressionismo.
            A morte é um tema presente na fotografia desde que as câmeras foram inventadas, em 1839. À medida que a fotografia foi se desenvolvendo, a imediatez e a fidedignidade foram aumentando também. Essa imediatez pode ser tanto em termos do ver o que está acontecendo agora como no despertar de sentimentos. A fidedignidade da imagem na fotografia intensifica mais ainda o segundo sentido.
            Como a fotografia lida com a questão da morte, por causa da conservação da imagem de uma situação ou de uma pessoa que já não é mais viva ou como era naquele instante, tudo isso traz uma série de consequências aos que vêem, até porque como foi dito, cada ser humano, embora unido por algumas características em comum, diferenciam-se justamente neles. As reações portando, aos que vêem essas imagens podem (e são) muito variadas.
            Nem todos conseguem lidar com qualquer tema, especialmente, a morte. Há os que não tem medo, há os que não se importam, há os que tem medo, há ainda os que são neuróticos com isso. O fazer fotografias, é o enfrentar estes temas, desafios e problemas anexados à ela.
            Como seres humanos que somos, racionais, precisamos sempre nos lembrar do outro, que verá, claro que não em termos de agradar ou desagradar, mas de ferir desnecessariamente o outro também. O que fazemos aos outros, acaba sempre voltando para nós, pode até parecer assunto religioso, mas é uma lei da vida, é uma consequência da forma como a nossa liberdade é exercida. Somos frustráveis por nossas escolhas.

Bibliografia

ARGAN, Giulio C. Arte Moderna. São Paulo. Companhia das letras, 1992.
Freud, Sigmund. Obsessive Acts and Religious Practices, 1924.
Stag, Susan. Diante da Dor dos outros. Companhia das Letras, 2003.

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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

FOTOGRAFIA AUTORAL - fotografia, tema e ética

As obras de arte são fruto de trabalho, pesquisa, histórico de vida, condições em que o artista se encontra e outras coisas mais que refletem a particularidade de cada um.
A escolha do tema a ser abordado, portanto, é com certeza de um caráter muito pessoal e particular. Como sabemos, o ser humano é diferente dos animais por poder dizer não à seus instintos, por isso, cada classe de animais tem suas características que podem definir a grosso modo o seu caráter, com pequenas variações aqui ou ali dependendo do ambiente em que se encontram.
O ser humano não pode ser definido com apenas algumas características comportamentais, porque seu comportamento varia não apenas por causa das condições em que se encontra mas também por causa de seu histórico, tanto genético como de vida e experiências. O que define o ser humano, portanto, é o que o difere dos outros seres humanos, fazendo com que cada um seja um seja diferente do outro.
Com tantas características que nos afastam das outras pessoas, existe a necessidade de nos aproximar delas também, o ser humano necessita de outros seres humanos, especialmente para progredir. E eis o grande problema, viver em comunidade, ou viver em harmonia com as outras pessoas.
Para isso, existe a ética. Como foi que ela surgiu é uma pergunta bem interessante, mas há em todos os animais uma ética impressa dentro deles. O ser humano consegue então, ampliar esta ética, modificá-la e adaptá-la para melhor servi-lo.
A ética do mundo animal, portanto, é diferente da ética do ser humano. Porque em cada lugar, um grupo de pessoas estabelece sua ética de acordo com os interesses em comum.
O artista então, como ser humano que é, vive cercado de valores e princípios que como ser humano, poderá ou não escolher seguir. Normalmente, parece que os artistas são os “escolhidos” para não concordarem com a ética proposta por aqueles que exercem um cargo de poder acima dos demais seres humanos, estes são geralmente os que propõe ou impõem uma lei para ser seguida para “o bem do grupo”.
É aí onde surgem muitos problemas, quando na verdade, acho que em muitos casos, não seria necessário existirem. Como eu disse anteriormente, o artista seria aquele que apresenta sua observação de forma criativa ou rápida. Rápida, não no sentido de tempo para ser feita, tanto é que ela se distingue da fotografia jornalística, por ter mais tempo para ser feita. Por isso, ao meu ver, o artista autoral tem muito mais responsabilidade sobre sua fotografia que os demais.
O problema é que muitos artistas procuram fazer suas críticas de forma bastante apelativa, o que em muitos casos, causa mais repulsa a aceitação. É uma escolha do artista fazer isso, ele tem liberdade para isso, porém é necessário, ao meu ver, e creio que muitos concordam com isso, que o artista, mais do que qualquer outra pessoa, saiba exercer sua liberdade, a fim de poder viver o máximo possível pela sua causa.
Cada escolha feita implica em resultados, estes resultados podem frustrar pessoas, podem frustrar o próprio artista. Em toda a vida humana, o ser humano é escravo das escolhas, pode parecer um paradoxo em relação ao que falamos de liberdade, mas não tem para onde correr para se livrar desta condição. O ser humano é condenado a passar a vida inteira julgando o que é certo, o que é errado, o que está certo, o que está errado, o que deve ser feito o que não deve ser feito, o que deveria ter sido feito ou não...
Por onde o ser humano passa, haverá uma presença de valor, as coisas nunca são vistas com os mesmos olhos, literalmente. Voltamos à velha ideia de Heráclito de Éfeso: “ninguém banha-se duas vezes no mesmo rio”. Em sua condição, o ser humano se torna preso a ética, todas as suas escolhas estão dentro da ética, ainda que seja para sair dela.
Se bem que por onde o ser humano passa os juízos de valor ali estarão e cada vez há uma mudança de olhar, há outro ponto que parece contradizer isso, trata-se do costume. O costume é caracterizados por atos continuados, embora pareça que a pessoa esteja presa, na verdade,  a ética também está nesta situação, porque para que este ser humano se encontrasse preso em um determinado costume, foi necessário uma escolha e para que este ser humano saia do costume, é necessário uma escolha também, a escolha de sair de lá. Portanto, permanecer em um costume é uma escolha constante de dizer “sim”, e como falamos também, não é por falta de oportunidade de dizer “não”.
É necessário então, aprender a enfrentar nossa condição e se apropriar das melhores formas para conduzirmos nossa existência. Parece que a arte tem esta característica e assim, os artistas procuram a melhor forma para poderem derramar suas dúvidas, seus anseios, seus medos, seus fracassos...
A ética é importante para escolhermos o que fazer, como fazer e se deve ser feito. Querer é diferente de poder que é diferente de dever. Há coisas que embora queiramos, não podemos e outras que podemos mas não devemos.
Acho que a questão da fotografia autoral, bem como na maioria das formas de arte também, há ali uma certa liberdade para poder fazer coisas que talvez não se possa nem se deva fazer, mas isso não se trata apenas da imagem retratada, mas a ética abrange também (e principalmente) o próprio fazer artístico. Mesmo que haja liberdade poética para fazer o que quiser, o artista, ainda assim, deverá raciocinar nos meios que irá utilizar para chegar onde quer chegar.
Todas estas questões são discutidas também no filme Fotos Proibidas, a respeito de uma exposição em Cicinnati de Robert Mapplethorpe. Até onde a ética pode se interferir na liberdade pessoal ou de expressão? Será que é necessário? Com certeza, a liberdade de expressão é um direito de todos, ninguém deve se submeter à escravidão e ficar quieto, mas a ética tem um papel especial no que diz respeito à forma da expressão. Não é nada louvável se expressar de qualquer forma diante de uma criança, por exemplo, a percepção de uma criança é bem diferente da percepção de um adulto, e ainda assim, como podemos notar, cada ser humano é diferente do outro.
Ao mesmo tempo em que há liberdade de expressão, há também o direito de resposta, a liberdade religiosa e etc. Se alguém se expressa a fim de protestar contra um abuso cometido por uma instituição ou por alguém, é uma coisa, mas protestar com o fim de ofender as crenças de outras pessoas é com certeza um grave erro de exercício da liberdade, pois é querer obrigar o outro a pensar como você e, o julgar ser melhor do que o outro não pode ser feito de qualquer forma.

Uma vez que eu descubro e crio as minhas convicções de que estou do lado certo, tenho o dever de ensinar os outros o que é certo. Os outros tem o direito de não aceitar, e se houverem dois grupos que pensam diferente em um lugar, deverá haver uma ética que possibilite a convivência entre estes dois grupos. Se um tentar se impor sobre o outro, estará deixando o uso da razão e partindo para a irracionalidade, o que fará que por mais que esteja certo em sua convicção, estará agindo de forma errônea.
Digo isso não apenas por causa de muitos artistas que tentam impor uma determinada visão com seus trabalho querendo que este seja exposto publicamente quando na verdade seu conteúdo é muito ofensivo, mas também por causa daqueles que não aceitam que o artista exerça sua liberdade de expressão. Uma forma de poder fazer com que estes grupos divergentes habitem na melhor forma possível de harmonia seria criar espaços para que cada um pudesse se expressar da forma que bem entender, desde que respeitando o outro também (não exercendo sua liberdade se apropriando de atos criminosos).
O problema que temos é que os que não tem nada a ver com o outro querem interferir em seu espaço, aí, de fato, cria-se uma grande confusão.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

FOTOGRAFIA AUTORAL - perigos da neurose

           Especialmente com o advento da era industrial, inúmeras consequências foram trazidas às pessoas. O comportamento, a visão, as expectativas, a forma pensar e muitas outras. A fotografia, bem como as outras artes, sempre estiveram presentes na história da humanidade, sendo vítima ou denunciando os equívocos cometidos pelos seres humanos.
O ser humano perdeu, portanto, parte de sua natureza, devido ao rumo que a história caminhou. Caminhando rumo à semelhança das máquinas, seu comportamento, seu modo de vida, passam a ser mais automáticos que manuais e isso traz com certeza, muitas consequências à própria existência humana, consequências estas que não são nada boas.
Freud destacou alguns problemas comportamentais nos seres humanos, que em muitos aspectos estão ligados à arte. Por isso, muito embora os trabalhos artísticos sejam bem feitos, acho que é preciso ter cuidado com o que se está fazendo e com o que se está vendo. Pode ser que em muitos casos, estejamos diante de problemas pessoais muito graves que embora sirva de tema para pesquisa e aprofundamento, é também a diagnosticação de uma enfermidade, especialmente mental.
Não é por acaso que muitos especialistas diagnosticam traumas através do uso de imagens, feitas ou não pelos pacientes.
            Pode ser que em muitos casos de imagens agradáveis aos olhos, haja uma mensagem de socorro, mas talvez não seja percebida porque devido ao reconhecimento ou mesmo ao fazer artístico, o artista encontre sua forma de lidar com seus anseios. Mas não acho necessário ou mesmo saudável, que o artista continue produzindo simplesmente por seu valor representativo na arte.
            Com esse discusso, devo dizer que muito do que é produzido e aceito como arte, ao meu ver, deve ser visto também com outros olhos, olhos preocupados no artista também, em sua vida, em seu bem estar, porque parece que a arte é a cura para os males da sociedade, ou para o inquieto que aprecia uma bela imagem (não necessariamente, no sentido estético) ou mesmo para o artista.
            Para o artista, a arte pode ser também uma válvula de escape, e válvulas de escape não curam, apenas desviam a atenção do que talvez fosse mais importante ser resolvido.
            Quem pratica atos obsessivos, está enquadrado no grupo de pessoas que sofrem de pensamentos, ideias, impulsos e outras coisas mais obsessivas. Uma neurose inicial pode ser apenas um ato justificável de organização, mas em estados mais avançados, a pessoa sofre por se incomodar com coisas desnecessárias.
            Um dos problemas de se identificar um neurótico obsessivo é que inicialmente, sua neurose não o afeta socialmente, porque geralmente os atos obsessivos são praticados sem a presença de outra pessoa. O cerimonial  é incrementado pelas atividades ornamentais que, são leis criadas pelo próprio individuo para realizar o cerimonial, por isso em caso de artistas, tanto a desordem como a ordem, podem ser vestígios de uma neurose.
            O que quero dizer com isso é que a arte precisa ser mais cautelosa em identificar o que é também produto de uma neurose ou de uma doença, que muitas vezes é aceita apenas como uma bela obra de alguém que é muito inteligente e sabe resolver bem os problemas estéticos.
            Muitos não ligam para a vida do artista, fazem uma separação entre o artista e a obra. Eu não acho conveniente, acho que a obra é uma parte do artista e se a obra é parte de um artista antiético, por exemplo, eu corro o risco de despertar nas pessoas que vêem a obra, o mesmo que o artista faz, porque pode ser que a pessoa não cometa o mesmo erro que o artista cometeu, mas acho possível que ela de alguma forma, tenha uma abertura ao pensamento do artista aceitando mais os seus erros, como sendo algo sem muita importância, passado de geração a geração, essas pequenas visões transformam comportamentos, que transformam sociedades, que transformam o mundo, que pode acabar abrigando uma população desinteressada com o que de fato importa e muito egoísta.
            Se a arte tem o papel de transformar a visão das pessoas a fim de que retornem aos princípios naturais, buscando a convivência em harmonia e respeito das diferenças, nem tudo pode ser exposto.

            Não estou defendendo que haja uma censura total da arte até porque isso seria contra o direito de expressão, mas que deve ser cuidadosamente estudado os casos e cuidadosamente alertado a quem quer que queira ver o que há de produção artística por aí.
            Este tema da neurose na arte me despertou o interesse especialmente ao descobrir que a neurose está intimamente ligada ao sexo. Se o sexo tem ligação com a morte e a morte com a fotografia, não estamos correndo o risco de estarmos cercados de neuróticos injetando seus pensamentos em nós através de sua arte, uma vez que boa parte da produção artística que se tem hoje trata de temas como a morte e o sexo?
            Há com certeza, muito a ser discutido sobre sexo, especialmente no que diz respeito à igualdade sexual, ao respeito aos que querem usar seus dons sexuais da forma que lhes parece bem, mas devemos cuidar para que não estejamos levando gato por lebre, comprando uma ideia de igualdade ou talvez liberdade sexual e levando outras coisas que não gostaríamos dentro do pacote: visões equivocadas ou doentias sobre o que era para ser resolvido.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

FOTOGRAFIA AUTORAL - alguns fotógrafos e seus trabalhos

            Francesca Woodman e Jan Saudek são dois grandes nomes da fotografia autoral que tratam de um tema semelhante um com o outro. Ambos tem o corpo como temática, ao mesmo tempo que falam sobre o sexo também.
            É interessante notar como é a vida ou visões sexuais dos artista que trabalham com este assunto. Sempre há histórico de confusão nesta questão em suas vidas, algum desvio de padrão, decepções amorosas e sexuais ou mesmo excesso sexual.
            Saudek ainda é vivo e continua produzindo seus trabalhos voltados à esta temática também. Em um documentário sobre ele, Saudek fala sobre seus pensamentos sexuais, muitos, nada louváveis, quer por conservadores, quer por não conservadores. Suas fotografias agradam a uns, desagradam a outros. O desagrado não é nem tanto pela questão estética, até porque ele resolve muito bem esta questão, mas especialmente pela questão da temática por ele utilizada. Suas fotografias que, hora fala do erotismo e pornografia, hora fala sobre a fragilidade humana e aí se encontra com o tema mórbido do final certo para cada pessoa, com certeza incomodam e muito, muitas pessoas.
Woodman cometeu suicídio aos vinte e dois anos de idade, tinha lá seu histórico sexual também. Sua vida não parece ter sido tão perfeita, mas parece que ela soube se resolver bem em sua linguagem artística. Ela utilizava mais o próprio corpo em algum espaço (normalmente um quarto) e suas fotografias tentavam de alguma forma chamar atenção à ela mesma.
Saudek conseguiu sua fama depois de muito esforço, mas ainda em vida, portanto, pode presenciar o tipo de aceitação do público, pode estar presente em suas exposições e assim ajudar na organização delas. Isso é um privilégio de não muitos artistas. Woodman, por exemplo, embora já tivesse seu reconhecimento em seus ciclos de amizade e nos ambientes em que estava presente, especialmente faculdade, tanto é que boa parte de suas fotografias são exercícios ou trabalhos da faculdade onde estudou. Seu reconhecimento artístico é portanto, mais póstumo, por isso não pode estar presente em suas exposições e tudo mais.
A presença ou ausência do artista é com certeza, significativa em uma exposição. Se ele não está presente, devido a sua morte, com certeza, as críticas não o atingirão, por isso, o resultado será diferente porque ele mesmo não terá o direito de se defender. E quem o defenderá? Será que seu defensor entente bem o que ele queria, quais eram suas intenções, seus anseios...? Sobre isso, o filme “Fotos Proibidas” também fala. Embora a discussão feita por causa da exposição do fotógrafo Mapplethorpe tenha acontecido sem sua presença e, por isso, sem seu direito de defesa, uma decisão foi tomada e sem dúvidas foi importante para se levantar várias discussões sobre liberdade de expressão, liberdade poética, ética, direitos... O que talvez pudesse ganhar outro rumo se o artista estivesse vivo e usasse talvez o bom senso de não querer brigar. Claro que com ele ou com outro, em algum momento esta discussão apareceria, mas todas estas questões são relevantes quanto a produção artística.



sexta-feira, 26 de julho de 2013

FOTOGRAFIA AUTORAL

            A fotografia autoral é uma referência à fotografia que não é a documental ou utilitária. Trata-se de uma fotografia artística, projeto pessoal de um determinado fotógrafo.
            Na verdade, a fotografia sempre será autoral, uma vez que todas as fotografias tem um autor, mas esta classificação é dada especialmente à, como foi dita, fotografia artística.
            A fotografia autoral precisa ser talvez mais cautelosa que a fotografia jornalística, até porque a fotografia autoral precisa de tempo para ser feita, e de fato, é feita com tempo, em contraste com a jornalística ou documental que depende dos fatos, como estão acontecendo. Ambas exigem percepção do fotógrafo, sensibilidade, uso da razão e sábio exercício da ética, porque são feitas para serem expostas e a exposição não é o fim, mas um meio para determinado fim.
            Quando a fotografia surgiu, houve a preocupação de que ela acabaria com a arte ou com o trabalho dos artistas, foi por muito tempo rejeitada como uma arte, e ainda hoje há quem não aceite. Mas se observarmos bem a fotografia, ela não é autônoma, precisa de alguém para operar o maquinário fotográfico para que então, a foto surja.
            Com este pensamento, podemos observar que a fotografia e feita da junção de um ser humano e uma máquina. Uma máquina não tem sentimentos, não entende o que está acontecendo, muito embora hoje em dia, haja aquelas máquinas que conseguem identificar sorrisos, rostos, pessoas. Será que ela sabe mesmo? Porque se for fotografado uma pessoa ao lado de um cartaz em que há outra pessoa, a máquina entende que são duas pessoas. Uma máquina não tem a capacidade por si mesma de entender qual daquelas pessoas que estão diante dela está viva, pensando, fazendo algo.
            Percepção portanto, não ficou para as máquinas, que podem até ser programadas para perceber, mas só o que seus fabricantes quiserem que ela perceba ou melhor, identifique.
Percepção é uma característica da natureza, plantas sentem, animais percebem, pessoas percebem, sentem. Por mais que qualquer pessoa possa fotografar, não é qualquer pessoa que pode fazer uma foto como resultado de sua percepção, e não me refiro às técnicas de enquadramento, luz, etc.
Percepção tem que ver também, com análise racional das implicações que uma determinada ação pode causar. Isso exige raciocínio, exige liberdade para fazer escolhas. Por mais que os animais possam perceber o que vai acontecer ou o que está acontecendo, eles obedecem à instintos e só podem dizer sim à estes.
O ser humano tem a característica que seja talvez a diferença entre os demais animais, pode dizer não à seus instintos e se disser sim, terá tido a oportunidade de dizer não, desde que, é claro, esteja em condições de exercer sua liberdade.
O ser humano, portanto, pode fazer mais que uma fotografia como registro, pode fazer uma obra de arte. Na verdade, não há uma definição correta para o que vem a ser arte, mas entendo que arte é uma percepção que vai além do senso comum e que é manifesta de forma criativa e/ou rápida. Há uma definição de arte que se trata de uma habilidade para realizar determinada coisa. Mas não se aplica ou ao menos não quero aplicá-la à este trabalho.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

BLOW UP


          O filme Blow Up conta a história de um fotógrafo de moda da década de sessenta na Inglaterra. Um dia ele sai para tirar fotos em um parque e se depara com um casal aparentemente apaixonado e sem que eles percebam, ele tira algumas fotos deles. Mais tarde o fotógrafo descobre que fora testemunha de um crime que ele mesmo não tinha notado. Ele tenta contar a história para várias pessoas, mas ninguém lhe dá a devida atenção, até que ele vai perdendo um a um dos elementos de prova e acaba por ficar sem nenhuma prova de que de fato ocorrera algum crime.
          Este filme traz à novamente à discussão, muitos elementos do papel da fotografia e do fotógrafo. Seria muito pouco provável que existisse fotografia sem que houvesse antes o desenho e a pintura, porque a fotografia surgiu como o desenrolar da história da humanidade em busca da imagem real. A pergunta que pode nos ajudar a compreender melhor esta busca é: para quê?
          Ao menos no que diz respeito ao retrato, a ideia é que a imagem da pessoa fique eternizada, não como recentemente a princesa Kate Middleton recebeu sua primeira pintura, porque à esta altura, a pintura não tem as mesmas características que tinha há trezentos anos atrás, quando a pintura era a melhor forma de se retratar alguém, hoje, com a fotografia, se retrata uma pessoa de qualquer ângulo possível em muito menos tempo do que se leva ao fazer uma pintura (que busque ser realista).
          Portanto, a busca pela imagem mais fidedigna possível foi o que fez a fotografia surgir. Quanto mais real for a imagem da pessoa, mais valor sentimental se dá à imagem retratada. A fotografia portanto, tem uma função estranha de dar vida novamente a pessoas e a momentos que no passado, existiram.
          A fotografia tem íntima ligação com a morte, e este é o tema do Blow Up. Especialmente na fotografia de guerra, o fotógrafo é constantemente testemunha de muitos crimes, suas fotos são testemunhas da barbárie cometida, mas nem sempre esta voz é ouvida e o fotógrafo acaba ficando só. Suas fotos acabam não servindo para o fim que deveriam servir, não por culpa do fotógrafo, mas culpa das pessoas que, na correria de fazer tudo o que der para fazer antes de morrer, deixam de exercer seu papel fundamental em vida: serem humanos.
          Este filme também trabalha com a temática do sexo que, embora possa não parecer, tem também muita ligação com a morte. A fotografia de moda é uma ilusão de uma foto que não está no passado, embora esteja sempre resgatando temas que morreram constantemente da forma mais sensual, atrativa e excitante possível. Esta fotografia dá impressão de que o que está sendo retratado está acontecendo, escondendo o passado morto ou dizendo que o que morreu está sendo recussitado agora. E esta é a grande mágica da fotografia: fazer com que o que foi passado pareça estar no presente, como se estivesse acontecendo aqui e agora, porque ao observar uma fotografia, nós nos colocamos no lugar de quem esteva ali, presenciando o fato na hora.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

DESENHANDO NO ÔNIBUS





      Ao iniciar minhas aulas de Desenho 1 na Universidade de Brasília, logo me deparei com algumas coisas que ajudaram os meus desenhos a dar um grande salto.










      Além do conhecimento sobre proporção e anatomia humana e animal, a exclusão da borracha foi algo muito libertador.











      Na época em que comecei o curso de Artes Plásticas, eu morava ainda em Luziânia - GO, bem perto da divisa entra o Valparaízo de Goiás - GO.










     Por ser muito distante, demorava muito tempo dentro dos ônibus, as viagens eram cansativas, os ônibus muito lotados... ainda hoje é para quem usa transporte morando por lá...











      Na época ganhei, da patroa da minha mãe, um caderno bem grande que servia de rascunho. Um lado havia sido utilizado e o outro lado da pagina estava em branco, eram vários documentos sem valor.









     Então passei a levar este caderno de rascunhos na mochila e como já estava me libertando da borracha mesmo, comecei a desenhar com canetas esferográficas que tinha.








     Os resultados foram ficando cada vez mais interessantes e se tornava um entretenimento tanto para mim como para os demais usuários do transporte coletivo, que ficavam surpresos ao ver desenhos, formas surgindo, a partir de rabiscos tortuosos devido a movimentação e vibração do ônibus.







     Hoje me lembro que não comecei a desenhar no ônibus por este tempo, mas que quando criança, gostava de desenhar no ônibus também... Deixava o lápis bem encostado no papel e a mão bem leve, para que a agitação do próprio ônibus guiasse as linhas, assim, brincava de fazer mapas, dos lugares mais curiosos da minha mente.







     Sei que estas brincadeiras todas me ajudaram muito a desenhar como desenho hoje, que não é lá essas coisas, sou ainda um aprendiz, em estágio inicial, mas que desejo avançar cada vez mais.

     Todos estes desenhos desta postagem são a partir de maio de 2010.








Este foi meu primeiro desenho que mais chegou perto do que inicialmente eu pensei, até hoje me lembro que estava perto da minha mãe no ônibus, chegando na Rodoviária do Plano Piloto







segunda-feira, 27 de maio de 2013

BANG BANG CLUB

             O filme Bang Bang Club Se passa no momento em que Nelson Mandela negocia o fim do Apartheid na África do Sul. Três amigos fotógrafos (Greg Marinovich (1), João Silva (2), Kevin Carter (3) e Ken Oosterbroek (4)
) que trabalhavam para denunciar os horrores da guerra civil que acontecia ali.
1
                Os fotógrafos, jovens e sonhadores queriam claro, alcançar uma certa fama com seu trabalho que parecia muito emocionante, mas foi se mostrando cada vez mais sério e exigindo deles uma postura mais firme em determinadas situações. O amadurecimento deles foi se dando à medida que o tempo passava, mesmo assim, isso não abalou a paixão deles por este trabalho, mas foi dando-lhes carga para serem cada vez mais prudentes.
                As brigas constantes entre etnias, demonstram a intolerância que as pessoas tem com os demais que são diferentes. Uma das razões disso é a briga territorial, algo que acompanha a natureza. Os animais tem suas brigas territoriais, nós temos nossas brigas. A diferença é que em nossa suposta racionalidade, tendemos a nos defender de ataques que pensamos estar planejados pelo outro e sentimos o direito de nos defender, atacando.
3
                Em meio à guerra, os fotógrafos queriam a melhor foto. É muito importante, neste caso, ser consciente. O que significa a melhor foto e quais as responsabilidade isso me exige como fotógrafo? A consciência é muito importante porque o fotógrafo fica em meio a venda de sua foto para sua subsistência e a responsabilidade de apresentar e denunciar os horrores da guerra. É aí que muitos fotógrafos esquecendo de sua responsabilidade, torcem para ver uma cena de horror para poderem conseguir uma “boa foto”.
                Boas fotos recebem prêmios, neste caso, o valor social é exigido. É um dos pontos levantados no filme por causa da fotografia do fotógrafo Kevin Carter. Ele fotografou um abutre perto de uma menina aparentemente prestes a morrer de fome e pela denuncia da fome como resultado da guerra ele recebeu um prêmio importante. Quando indagado sobre sua consciência ao fotografar aquela cena, ele se encontra praticamente desprovido de argumentos, o que o faz parecer alguém que se importava apenas em suas próprias necessidades, neste caso, a falta de diversas informações naquela fotografia, lhe trouxe alguns problemas, porque por exemplo, a foto não explicava que a menina havia apenas parado para descansar no caminho para um centro de alimentação.
                Mas será que só alguém plenamente consciente do que faz é que faz coisas importantes e relevantes? A fotografia, a pintura ou a música de uma pessoa que fala o que está vendo mesmo sem ter plena consciência política deve ser descartado? Na verdade, tudo o que é feito por alguém é um reflexo do que esta está vivendo, em determinado tempo, em determinado lugar e com determinadas pessoas, por isso toda produção contemporânea serve de registro de alguma forma, é claro que nem tudo tem uma função político-social, mas as produções, em si, não exigem que somente pessoas conscientes de suas responsabilidades façam algo relevante.

4
Por séculos, qualquer pessoa que fosse contra a igreja era perseguido, e até mesmo condenado à morte suas ideias eram consideradas até bruxaria, este foi considerado o período das trevas, onde as diferenças não eram aceitas. Ideias como a de que a terra era redonda e a de que esta girava em torno do sol eram consideradas loucura, vinda de pessoas contrárias aos dogmas da igreja então, era um pecado ainda mais sério. Ideias de pessoas ateias então, não eram aceitas de modo algum, hoje não é assim, mas ainda existe intolerância com muitas pessoas por a falta de consciência de que a produção não depende de particularidades pessoais das pessoas quanto a sua importância social, política, filosófica, etc. A produção, embora traga certa particularidade do autor, não é o autor. Por isso, a apreciação da obra não pode ser observada de forma preconceituosa. A imagem é transformadora, portanto, embora seja importante considerar o passado, isto é, como se chegou a tal resultado, o mais importante é o que esta imagem pode fazer para o futuro, as questões que esta levanta e que podem trazer mudanças positivas .

sexta-feira, 24 de maio de 2013

ANNIE LEIBOVITZ

A fotógrafa Annie Leibovitz começou seu trabalho logo cedo, embora não tivesse certeza de que era o que queria para sua vida, envolveu-se tão profundamente neste trabalho que se tornou um marco na fotografia e é uma das fotógrafas mais famosas da atualidade.

                Famosa tem muito a ver com ela, uma vez que ela fotografa pessoas famosas. Os rostos mais conhecidos do cinema, da televisão e mesmo da música, ela fotografou. Seu diferencial é a criatividade e a percepção do que ela está fotografando.


               Ela começou sua carreira fotografando para a revista Rollyng Stones e a partir daí começou a ganhar reconhecimento. Ela cresceu profissionalmente junto com esta revista que fora criada por um grupo de jovens no final da década de 1960 e era voltada à cultura hippie da época e foi ganhando fama. Era uma revista que a princípio parecia falar apenas de música (inclusive um dos fundadores era um crítico da música Ralph J. Gleason) estava interessada em política, sociedade e cultura também, mas não se distanciava da ideia original, uma vez que as próprias músicas da época tinham sua participação política e social.
                Esta percepção característica de Leibovitz , muito além do que os críticos ou mesmo o público percebe, é percebida também por quem é fotografado por ela. Os próprios artistas sentem-se não apenas o personagem retratado, mas segundo eles mesmos dizem, ela consegue alcançar a particularidade de cada um, em certeza em sua experiência, ela aprendeu a ver além do que a lente pode revelar. O que com certeza é muito importante para quem fotografa, pois a câmera pode captar a imagem, mas a mensagem que esta pode levar só pode ser captada por alguém que tenha capacidade de raciocinar, fazer escolhas e ter também humanidade dentro de si, e este é o papel do fotógrafo.
                Ela me parece muito coerente em todo o seu processo de desenvolvimento como fotógrafa. Seu trabalho é muito coerente do início ao fim, com ela mesma, sabe diferenciar a foto artística da foto comercial, outra característica louvável.

                Ela sabe se adaptar com facilidade, mas sua adaptação não a faz perder o que é importante na fotografia, ela se adapta para, como dizem os que a conhecem, “surpreender”. A fotografia de moda, que é onde ela se inseriu em algum momento, já é por si uma montagem... junta-se um cenário, uma personagem, uma roupa, uma época... mas a diferença entre ela e boa parte dos fotógrafos de moda é que estes pegam uma situação pronta e fotografam, então, os designers gráficos se viram para arrumar os melhores efeitos para apresentarem a foto comercial e venderem. Ela procura ser inovadora em cada foto, embora pegue algo pronto, ela consegue ornamentá-los mais e fazer uma fotografia totalmente diferente dos outros fotógrafos. Alguém disse que uma fotografia dela é o sonho de qualquer designer gráfico trabalhar. É portanto um desafio, o designer não irá deixar a foto dela “bonita” ele irá apenas acrescentar o que a máquina nas mãos dela não conseguia fazer.